sábado, 3 de novembro de 2012

QUANDO BATE A ANSIEDADE

      De repente senti minha vida ser virada no avesso. Uma visita médica resulta num amargo diagnóstico de câncer de pele.

Diante do ar apreensivo da médica mantive a calma e como praticante de yoga e palestrante de temas motivadores procurei aplicar minhas técnicas para encarar esse trauma com a maior tranquilidade possível.

Na pior das hipóteses seria um melanoma e pior ainda já com metástase- estaria “condenada”. Após o sofrimento horrível aplicado nesses casos para melhorar a qualidade de vida, a morte iminente. Pensei nas pessoas que ainda precisavam de mim. Minhas filhas sofreriam e minha irmã também, tive certeza, mas  se recuperariam, meu marido também  acabaria se casando novamente e eu seria talvez uma lembrança boa na vida dele (pelo menos merecia, pensei). Algumas pessoas que eu motivava e praticava com elas meus conhecimentos adquiridos nas aulas de yoga também sentiriam minha falta, mas não seria insubstituível, conclui. Então restaram meus gatos – esses dependiam exclusivamente de cuidados, de minha presença. O Robinho resistiria, mas a Dafne certamente morreria em breve como o Bingo, cachorro de meu pai.

A biópsia sairia em uma semana! Cercada de carinho de meus familiares eu me arrastava junto com os dias que demoravam a passar. Brincava , sorria, procurava ocupar meu tempo com coisas banais. Não conseguia escrever uma palavra, nem chorar e muito menos exercer meus trabalhos voluntários.

Uma noite vi meu marido chorar quando eu disse que eu poderia não ter tempo de ver meu neto. Mudei de assunto rapidamente. A última coisa que eu queria era fazer alguém sofrer antecipadamente.

Mas, isso me levou a concluir que inconscientemente eu estava muito ansiosa. Apesar do carinho e presença de minha família, do apoio do meu psiquiatra, eu estava procurando enganar até a mim mesma.

Nessa mesma noite, no silêncio de meu quarto, resolvi abrir meu coração com Aquele que é nosso amigo maior e do qual não conseguimos esconder nada.

Olhei para o crucifixo na parede de meu quarto e disse com o coração:

“Senhor, acabei de descobrir que estou sendo falsa, orgulhosa e mentirosa. Eu estou com muito medo do sofrimento, estou sim pensando no estado deprimente que é uma pessoa que faz quimioterapia- eu não quero morrer ainda, Senhor, apesar de toda a fé que eu tenho em meu coração eu estou duvidando que Vós estejais a cuidar de mim. Afinal, tem tantas pessoas muito mais precisadas talvez.”

Foi então que comecei a chorar. Imaginei-me deitada no colo de Deus e Suas mãos santas afagando meus cabelos. Foi uma sensação muito forte. Eu falava que talvez não merecesse que era uma pecadora, que tinha muitos defeitos... Sentia apenas o leve toque de suas mãos.

Foram instantes indescritíveis. Rompeu-se o choro e cai no sono. Acordei bem melhor, por não estar mais fingindo. Consegui fazer com mais honestidade a atividade da aceitação e entrega. Não tem nada mais consolador. Inspirava profundamente dizendo: Senhor eu aceito tudo que me for designado e ao expirar eu dizia: Senhor eu me entrego em Vossas mãos misericordiosas. Que seja feita a Vossa vontade.

Agora os dias passavam mais rápidos na minha mente, ninguém mais tocava nesse assunto em casa.

Fui retirar os pontos e nada ainda- o resultado não havia saído. Respirei fundo e aceitei de coração.

Após o terceiro dia da retirada dos pontos eu lembrei-me que era o dia de meu trabalho voluntário. Senti- me vazia- não sabia o  que deveria dizer para animar alguém- Eu que sempre era tão eloquente.

"Mas vou tentar", pensei. Seja qual for à resposta serei útil até o último momento. Sentei-me para ligar ao pessoal que chegaria dentro de minutos. Antes que eu tocasse no telefone ele tocou e uma voz do outro lado disse:

- Boas notícias, nada de grave. Apenas um carcinoma basocelular. Tudo está concluído, não será necessário tratamento, apenas a retirada do tumor que já foi concretizada. Todos aqui estão muito felizes.

Desliguei e disse apenas:- Obrigada, meu Deus. Sabíeis de meu desejo e o realizastes. Louvor e glória a Vós, Senhor!

Só depois que voltei do trabalho, sozinha no meu quarto pude abrir novamente meu coração e ter outra conversa íntima com Deus num agradecimento emocionado e sincero. Ele sabe de todas as necessidades, não é necessário ansiedade, medo, desespero. Se tiver fé, se entregue nas mãos Dele. 

Quando bater a ansiedade abra seu coração e converse intimamente com Deus.

4 comentários:

  1. Oi Zilda.
    Tudo bem com você?
    Espero que sim.
    Beijos

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  2. Que lindo depoimento Zilda!
    A fé te curou! Grande abraço

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  3. Obrigada pela visita, Eneci!
    Agora tudo bem sim!
    Beijos e volte sempre.

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  4. Odete!!!Como fiquei feliz com sua visita!!
    Obrigada por me incentivar sempre. Seus comentários são preciosos para mim, amiga.
    Beijos e volte sempre.

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