A
CULPA É DE QUEM?
Meu pai, apesar da simplicidade, era um
homem sábio. Surpreendemo-nos um dia em que ele disse, nos seus 80 anos de
vida, que não mais pertencia a esse mundo. Explicava que no seu tempo, os
homens possuíam brios, responsabilidades... Era desnecessários burocracias e
papéis, pois bastava deixar um fio de seu bigode para que no dia certo estivesse
ele no lugar marcado para honrar o seu compromisso. Hoje em dia, completava ele
zombateiro, nem deixando toda a cabeleira da cabeça, nem assinando todos os
papéis exigidos burocraticamente pela sociedade, se preocupam em manter o nome
honrado. Esse comportamento o deixava abismado.
Hoje, já numa idade madura me ponho a
pensar que estou atingindo a perplexidade de meu pai e começo a entender que
também já não reconheço esse mundo.
Quando mais jovem, era comum ouvir entre
os colegas, um apelidando o outro de negão, pau de vira-tripa, baixinha,
gordinha... E ninguém encarava isso como bulling, aliás essa palavra surgiu há
pouco tempo, nem meu notebook a reconheceu.
Negão é o pior, pois podemos até ser
processados por racismo. Eu estou pensando em processar certas pessoas negras
por preconceito também, pois elas muito me discriminaram, não sei se é pela
minha cor morena ou por ser eu de uma estatura abaixo da média. Uma se trata de
uma psicóloga negra que, sendo minha vizinha, pensei que pudéssemos ser amigas,
pois sempre a cumprimentei com um sorriso no rosto, falei com seus filhos na
rua, respeitando as regras da boa vizinhança. Mas, comecei a perceber que ela
me ignorava nas rodas de amigos, nas redes sociais, deixando bem claro que
dispensava minha amizade. Outra negra também, foi uma colega de trabalho,
professora substituta que chegou a escola onde eu lecionava. Ofereci meus
préstimos em tudo que ela precisou e tivemos um ano de muita convivência e
amizade. Bastou passar o ano para ela me ignorar... Insistindo ainda, fui até a
casa dela levar um convite do lançamento de meu primeiro livro. Ela não foi,
não me deu um telefonema e me evita quando me encontra na rua. Descobri então
que os negros são muito preconceituosos comigo. Aproveito até para agradecer
minhas amigas e amigos virtuais negros, que são muito poucos, mas me deram a
honra de me adicionarem. Obrigada por me verem como uma pessoa normal.
Quando vejo a televisão, então me sinto
realmente desatualizada. Os casais românticos não são mais um mocinho lindo com
uma mocinha linda também, que se amam, casam e vivem felizes para sempre. São
dois homens que se acariciam, se beijam e planejam constituir uma família com
uma barriga de aluguel, pois claro, biologicamente, apenas espermatozóides não
combinam para gerar um filho. Ou então duas mulheres lindas também fazendo par
romântico. Uma abandonando o lar, deixando o filho, para viver um caso de amor
com outra mulher. Fico pensando na minha ingenuidade como isso funciona e para gerar filhos que é o objetivo maior de uma relação,
também não combinam. Deus fez tudo tão certinho, porque estão complicando tudo
desse jeito?
No dia das mães, mostraram os diferentes
tipos de casais. Ainda perguntaram para uma criança: - Ela é o que sua? A
menina respondeu: - Mamãe! E a outra? Insistiu a jornalista - Mamãe também!
Imaginei essa criança na escola, como
ficará essa cabecinha!
Se meu pai estivesse vivo e visse tudo
isso, não sei o que diria agora.
E a
falta de respeito que domina a maioria... Pai!! Sabe que os filhos não
respeitam mais os seus pais e olha que se eles quiserem educá-los são impedidos
pela lei da palmada e podem até acabarem penalizados? Então os filhos
aproveitam: roubam, matam, barbarizam e depois infelizes e desiludidos procuram
as drogas para uma ilusória felicidade. Eles desconhecem as palavrinhas mágicas
que aprendemos com vocês e depois na escola, porque se os professores
insistirem em ensinar apanham – eles podem usar da violência porque são menores
de idade. Então os professores são espancados e muitas vezes até mortos. Não
podemos mais também sentarmos a porta, nem esquecer o portão da frente encostado,
porque esses marginais entram porta a dentro nos levando tudo que adquirimos
com sacrifício, fruto de nosso trabalho, palavras que desconhecem. As músicas
que ouvimos hoje, não falam de amor, nem de carinho, nem de boas maneira, mas
de sexo, de desrespeito, de incentivo a violência.
Realmente, eu não reconheço mais esse mundo e agora entendo o que o senhor queria nos dizer. E
quando ouço e assisto na TV os absurdos que cometem os governantes, então! Sinto
como estamos desprotegidos e carentes. Isso não é evolução, o senhor estava
certo pai, mas prometo-lhe que continuarei através de minhas palestras e de
meus livros de autoajuda contribuir para o resgate de valores por tudo que
aprendi com o senhor, pois sabe, pai - a culpa de tudo isso cabe a cada um de
nós quando ficamos omissos assistindo e apoiando tamanhas barbaridades. Sua
Bênção pai, nesse dia que comemoramos o seu aniversário e minha admiração
eterna!
Zilda Costa.