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Outra experiência que não posso deixar de
relatar foi quando eu estava já por me aposentar, com a papelada quase toda
concluída.
O caso foi com um vizinho
que sempre se preocupou com o meu modo de ser. Criticava muito a falta de
liberdade que dizia darmos às nossas filhas, pois elas tinham hora para tudo.
Brincar na rua era só a tardezinha quando já haviam realizados todas as responsabilidades
a elas conferidas. Quando adolescentes o pai levava e buscava a porta se fosse
a alguma festinha e quando mais mocinhas só iam a bailes de formatura ou de
algum evento especial. O namoro então era muito controlado mesmo, em todos os
sentidos; não sei por que isso incomodava as pessoas e em especial esse senhor.
Surpreendi-me até quando
essa família insistiu em colocar uma filha adotiva, cheia de mimos também, sob
meus cuidados por eu ser exigente. Ela me amava e eu, embora me desse bastante
trabalho, gostava muito dela também. O meu retorno para casa chamava a atenção
das pessoas, vários de meus alunos me acompanhavam até minha casa, muitas vezes
até mudando o caminho deles. Eu aproveitava para aconselhá-los discutíamos
problemas das equipes que era um método muito divertido que introduzi nas aulas
de educação física, falávamos de futebol, da família deles, enfim de qualquer
assunto que surgia no momento.
Talvez por isso, na minha
aula ela não aprontava, apresentava muita dificuldade na aprendizagem e exigia
atenção contínua quanto à dispersão: perdia-se no tempo e no espaço, com
pequenos entretimentos deixando muitas anotações em falta.
Mas, durante o recreio,
era quase todo dia enviada para a diretoria, ficando após a conversa de castigo
no corredor.
Um dia aconselhando a
turma coloquei o quanto era humilhante essa situação. Enalteci as crianças que
recebiam elogios pelos méritos e falei que todos nós podíamos tornar-nos famosos por ter
feito uma coisa boa ou por ter feito uma coisa má. Disse:
- Vocês não vêm na televisão? Nós vemos pessoas que se destacam
por seus talentos e pessoas que se destacam por ser marginais.
No dia seguinte, a diretora
que já me conhecia há anos, sabia o meu carinho com os meus alunos e que
definitivamente eu não era burra para dizer uma coisa desse nível me contou
como se fosse a piada do dia: o pai da tal garota fora à escola me denunciar
porque eu a havia chamado de marginal.
A diretora me disse que aproveitou para expor ao pai o comportamento
deplorável da menina na escola.
Texto retirado do livro: Se os
pais e professores derem-se as mãos!
O meu objetivo ao escrever esse
livro foi de passar para os pais a importância da parceria com a Escola do
filho. Diante de uma reclamação nunca acreditar de imediato na versão dos filhos.
O correto é primeiramente tomar conhecimento das duas versões. Sempre a escola
e a professora têm seus motivos pela atitude tomada. Mesmo no caso dessa
professora que está sendo processada pelos pais, o objetivo dela"poderá ser" de mostrar
como os alunos não levam a sério uma prova, como a menina foi desrespeitosa com
ela. A atitudetomada pelo pai estimulará ainda mais essa menina a ser inimiga dos
membros da escola e o prejuízo será mais dela.
Exemplificando darei continuidade
ao texto acima que foi uma situação real do meu dia a dia como educadora.
Essa menina foi para outra escola
cursar a quinta série. Como é minha vizinha, não pude deixar de seguir os
passos dela. Continuei a procurar saber de sua vida escolar. A
resposta era sempre:- Tudo bem, sora!
Depois de alguns anos já a vi
chegando a casa com namorados. Digo isso porque sempre era um diferente. Até
que um dia pareceu grávida. O pai da criança não tinha condições de assumir e antes mesmo
do filho nascer foi preso por tráfico de drogas.
Os pais a apoiaram, como tinha
mesmo que ser, pois quando envolve um ser inocente temos mesmo é que proteger.
A criança nasceu e ela vivia com os pais continuando a visitar o “namorido” (Achei
horrível essa palavra quando a ouvi pela primeira vez) na prisão. Um dia,
lamentavelmente fiquei sabendo que ela foi encarcerada também por ter conduzido
drogas para dentro da penitenciária. Continua presa. Quando vejo a filhinha
dela, meu coração chora. Sinto também pena dos pais, mas são os frutos que colheram
de uma educação falha.
Outro dos alunos aqui citado
também se envolveu com drogas. Esteve em uma clinica e agora perambula pelas
ruas, não sei qual o objetivo se, se dedica a alguma ocupação.
É comprovado então que devemos estar muito
atentos e ser muito presente na vida de nossos filhos e participar da vida
escolar sempre, pois a escola também tem o objetivo de formar cidadãos
íntegros. A escola tem que ser uma continuidade do lar e só conseguiremos isso “se
os pais e professores derem-se as mãos."