sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A ESCOLA DE HOJE






  Recentemente, minha filha tristemente me falou:
  - Mãe! Perdi minha identidade. O que sou? Professora, não posso dizer que sou, pois, os alunos nos impedem de ensinar, não apresentam nenhum interesse em aprender, em crescer intelectualmente e muito menos estão preocupados com o futuro. A senhora sempre me disse que eram muitas vezes babás, psicólogas, enfermeiras... quem me dera! Onde trabalho só se vê profissionais frustrados, maltratados, insultados por seus alunos e pais. Depois de quatro anos de estudo numa faculdade estadual muito conceituada, onde me dediquei, dando o melhor de mim deixando diversões, passeios, muitas vezes sacrificando horas de repouso eu pergunto: o que sou?
   Fiquei olhando para ela também com muita tristeza, pois infelizmente tive que concordar. O professor perdeu sua identidade.
   Realmente, sempre foi uma boa aluna, responsável, nunca nos deu nenhum tipo de trabalho. No último ano de faculdade prestou concurso, mais para avaliar-se, pois ainda não possuía o diploma e foi aprovada. A primeira vez que foi chamada, não pode assumir por não ser ainda formada, mas devido à falta de professores da área, ela foi novamente chamada no ano em que completava o curso. Foi uma correria, a direção teve que antecipar o diploma para que assumisse o cargo. Imaginem a alegria e o entusiasmo que iniciou a carreira. Embora tivesse escolhido sua sede em uma cidade meio violenta, nada a desanimava. Em janeiro já iniciou o preparo das aulas de maneira atualizada, criativa, buscou os melhores livros. Tive a certeza que seria uma excelente educadora.
   Sem querer desanimá-la, mas ponderando, disse que ela encontraria nível bem diferente do qual esperava, pois, antes de aposentar-me eu já tomei a consciência dos rumos decadentes que tomava a escola pública. Aposentei-me cedo, mais pela decepção, constatação triste de uma profissão desvalorizada.
  Um ano bastou para assassinar todos os sonhos dela. O que encontrou foi exatamente turmas semi-analfabetas que de matemática dispunham de meras noções básicas.
  Mesmo assim, ela buscou voltar à matéria, sanar a defasagem imensa, mas alunos de oitava série que não dominam as quatro operações, números decimais, expressões simples é praticamente impossível recuperá-los.
  Na tentativa de incentivá-los, ela implantou no Orkut uma brincadeira muito interessante. Criou uma comunidade: “Você já sentou na cadeirinha? ”. Foi uma dose de ânimo, principalmente no incentivo à disciplina. Quando o aluno se excedia falando palavrões, muito comum para eles, ou recusavam a participar da aula, também muito comum, pois ninguém em casa exercia nenhum tipo de autoridade sobre ele, ela o colocava por alguns minutos na cadeirinha. Depois eles registravam a experiência no Orkut, foi um sucesso, pois iniciou um esforço por parte dos alunos em não experimentarem a cadeirinha. Mas, bastou a filha da secretária da escola sentar na cadeirinha para haver todo um drama em que todos da direção acharam que deveria ser excluída essa comunidade, pela humilhação que esta conferia ao aluno. Foi quando ela desistiu de resistir. Passou a exercer seu cargo, já agora com bem pouco estímulo.
  Esse dia, ela deu três aulas seguidas na mesma turma. Uma menina, ou menino: tinha nome e ficha do sexo feminino, mas comportava-se e se vestia como pessoa do sexo masculino, tirou o dia para aprontar de tudo: falava alto, debochava dos colegas, recusava-se a participar da aula... por incrível que isso possa parecer, meus queridos leitores hoje em dia isso acontece numa sala de aula e o professor não pode fazer absolutamente nada! Mas quando ela percebeu que a professora mantinha a calma, ignorando e procurava dar andamento em sua aula ela decidiu tirar a roupa dentro da sala. Segundo minha filha ela chegou a tirar a calça, mostrando uma cueca amarela.
   A essa altura, não tinha mais como aturar. Ela avisou a diretora e pediu que a pessoa se retirasse da sala. Ao passar por ela, a pessoa em questão, deu-lhe um tremendo empurrão jogando-a contra a parede.
 Professora não pode nem se alterar com aluno, mas aluno pode agredir professora? O que aconteceu com a tal pessoa? A diretora prometeu expulsão, mas não se pode deixar adolescentes sem escola segundo a lei dos Direitos da Criança e Adolescentes! Engraçado, como eles têm tantos direitos e nenhum dever.
Minha filha, em choque, me ligou e o pai imediatamente foi buscá-la. Ele ficou no limite, chegando ao cúmulo de tirar satisfações com a pessoa. Ela disse sarcasticamente:
- Eu não fiz nada, só dei um empurrão nela.
  O pai achava inadmissível tal comportamento, pois nossa filha foi educada exatamente com a ideia de que professor é uma autoridade na sala de aula e deve ser respeitado como tal. Queria de qualquer maneira fazer um Boletim de Ocorrência. Eu dei apoio, para que sirva de exemplo para os demais alunos e isso não suceda mais nem com minha filha nem com as demais professoras da escola, mas já sei de antemão que vai dar em nada.
 Infelizmente esse é o ambiente que os professores e alunos passam a maior parte de seu dia. Horário que seria dedicado ao crescimento cultural, aprendizagem, esclarecimento de dúvidas é quase que totalmente perdidos com discussões, desrespeito com os mestres, brigas paralelas, desinteresse em tudo o que está sendo ensinado.
Livro: SE OS PAIS E PROFESSORES DEREM-SE AS MÃOS

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