quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Quando bate a ansiedade

 

QUANDO BATE A ANSIEDADE

      De repente senti minha vida ser virada no avesso. Uma visita médica resulta num amargo diagnóstico de câncer de pele.

Diante do ar apreensivo da médica mantive a calma e como praticante de yoga e palestrante de temas motivadores procurei aplicar minhas técnicas para encarar esse trauma com a maior tranquilidade possível.

Na pior das hipóteses seria um melanoma e pior ainda já com metástase- estaria “condenada”. Após o sofrimento horrível aplicado nesses casos para melhorar a qualidade de vida, a morte iminente. Pensei nas pessoas que ainda precisavam de mim. Minhas filhas sofreriam e minha irmã também, tive certeza, mas se recuperariam, meu marido também acabaria se casando novamente e eu seria talvez uma lembrança boa na vida dele (pelo menos merecia, pensei). Algumas pessoas que eu motivava e praticava com elas meus conhecimentos adquiridos nas aulas de yoga também sentiriam minha falta, mas não seria insubstituível, conclui. Então restaram meus gatos – esses dependiam exclusivamente de cuidados, de minha presença. O Robinho resistiria, mas a Dafne certamente morreria em breve como o Bingo, cachorro de meu pai.

A biópsia sairia em uma semana! Cercada de carinho de meus familiares eu me arrastava junto com os dias que demoravam a passar. Brincava, sorria, procurava ocupar meu tempo com coisas banais. Não conseguia escrever uma palavra, nem chorar e muito menos exercer meus trabalhos voluntários.

Uma noite vi meu marido chorar quando eu disse que eu poderia não ter tempo de ver meu neto. Mudei de assunto rapidamente. A última coisa que eu queria era fazer alguém sofrer antecipadamente.

Mas, isso me levou a concluir que inconscientemente eu estava muito ansiosa. Apesar do carinho e presença de minha família, do apoio do meu psiquiatra, eu estava procurando enganar até a mim mesma.

Nessa mesma noite, no silêncio de meu quarto, resolvi abrir meu coração com Aquele que é nosso amigo maior e do qual não conseguimos esconder nada.

Olhei para o crucifixo na parede de meu quarto e disse com o coração:

“Senhor, acabei de descobrir que estou sendo falsa, orgulhosa e mentirosa. Eu estou com muito medo do sofrimento, estou sim pensando no estado deprimente que é uma pessoa que faz quimioterapia- eu não quero morrer ainda, Senhor, apesar de toda a fé que eu tenho em meu coração eu estou duvidando que Vós estejais a cuidar de mim. Afinal, tem tantas pessoas muito mais precisadas talvez. ”

Foi então que comecei a chorar. Imaginei-me deitada no colo de Deus e Suas mãos santas afagando meus cabelos. Foi uma sensação muito forte. Eu falava que talvez não merecesse que era uma pecadora, que tinha muitos defeitos... sentia apenas o leve toque de suas mãos.

Foram instantes indescritíveis. Rompeu-se o choro e cai no sono. Acordei bem melhor, por não estar mais fingindo. Consegui fazer com mais honestidade a atividade da aceitação e entrega. Não tem nada mais consolador. Inspirava profundamente dizendo: Senhor eu aceito tudo que me for designado e ao expirar eu dizia: Senhor eu me entrego em Vossas mãos misericordiosas. Que seja feita a vossa vontade.

Agora os dias passavam mais rápidos na minha mente, ninguém mais tocava nesse assunto em casa.

Fui retirar os pontos e nada ainda- o resultado não havia saído. Respirei fundo e aceitei de coração.

Após o terceiro dia da retirada dos pontos eu lembrei-me que era o dia de meu trabalho voluntário. Senti-me vazia- não sabia o que deveria dizer para animar alguém- Eu que sempre era tão eloquente.

"Mas vou tentar", pensei. Seja qual for à resposta serei útil até o último momento. Sentei-me para ligar ao pessoal que chegaria dentro de minutos. Antes que eu tocasse no telefone ele tocou e uma voz do outro lado disse:

- Boas notícias, nada de grave. Apenas um carcinoma basocelular. Tudo está concluído, não será necessário tratamento, apenas a retirada do tumor que já foi concretizada. Todos aqui estão muito felizes.

Desliguei e disse apenas: - Obrigada, meu Deus. Sabíeis de meu desejo e o realizastes. Louvor e glória a Vós, Senhor!

Só depois que voltei do trabalho, sozinha no meu quarto pude abrir novamente meu coração e ter outra conversa íntima com Deus num agradecimento emocionado e sincero. Ele sabe de todas as necessidades, não é necessário ansiedade, medo, desespero. Se tiver fé, se entregue nas mãos Dele. 

Quando bater a ansiedade abra seu coração e converse intimamente com Deus.

2 comentários:

  1. Querida amiga, mais um texto incentivador nos momentos mais difíceis das nossas vidas. Sim, Deus acima de tudo.
    Há dois anos, um vizinho diagnosticado com câncer, teria apenas mais um mês de vida, segundo seu médico e, não passaria nem o Natal com a família. Ele sem saber dessa revelação do oncologista e, já estava depressivo sem dúvida e nem saia mais de dentro de casa. Sua esposa deprimida, como todos da família. Eu resolvi emprestar o seu livro. Acredite que ele lia algumas linhas, segundo a esposa. Hoje ele cuida do jardim e, pelo visto, passará mais um Natal com a família. E quem sabe muitos outros.

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  2. Querida Denise, não imagina como me fez feliz com esse seu depoimento. Obrigada, amiga! Nosso trabalho é muito gratificante, pois dá um colorido ao mundo quando tudo parece tão nublado. Grata pela visita. Beijos.

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