Sala
de enfermaria... As macas enfileiradas, cada um aguardando a hora da
cirurgia. Em cada um, na sua solidão, ocorria o pensamento das possíveis
últimas horas de vida. Numa cirurgia tudo pode acontecer... Pobre, rico,
negro, branco se confraternizam com um sorriso amarelo.
Senti-me
útil ao ajeitar a touca de uma velhinha, cujos membros já se
encontravam atrofiado. Veio um constrangimento de meu gesto de
humildade. Não que eu seja uma pessoa má,mas não pude deixar de lembrar
de minha casa, recém reformada de minha banheira e de meus sais de
banho, dos cremes, do closet organizado como sempre sonhei! Tudo me
pareceu fútil, avaro, sem sentido. O sorriso desdentado da velhinha, fez
com que me sentisse melhor. Ali todos eram iguais: branco, preto,
pobre, abastado... Todos com uma camisola de chita que ao levantar-se
irremediavelmente mostrava o traseiro. Vinham enfermeiras abrindo nosso
peito colocando os aparelhos necessários. Enquanto mostrava os seios,
objeto de admiração e prazer, se transformando num simples e mais um dos
órgãos femininos. Veio-me a mente, as palestras, as bienais, as
entrevistas com jornalista...
Agora
eu era mais uma de bunda de fora, que se agarrava as minhas crenças, me
entregando nas mãos de Deus. Bem, fé eu sempre cultivei e em nenhum
momento me utilizei da soberba da ganância, conclui aliviada. Tinha a
impressão de dedos invisíveis nos apontavam com um sorriso maroto: “Está
vendo como você não é nada? Está sozinho, sofrendo e nesse momento, só
Deus poderá fazer algo por você. Será que você também se lembrou Dele
nos momentos de glória e olhando para o alto balbuciou um simples
agradecimento? Será?
Tive
nesse momento, a certeza de que só vale a pena fazer o bem, só vale a
pena valorizar nossa família que mesmo à distância, são as únicas pessoas a
torcer por nós, só vale a pena ter bagagem para apresentar ao Criador, se
algo não der certo como desejávamos e que o resto são fardos pesados
demais, por isso deixaremos tudo para trás, no momento da partida.
Fazendo
esse balanço tive a impressão que Deus me estendeu a mão e quando meu
médico me sorriu e perguntou: -Podemos ir? Eu disse com sinceridade:
- Sim, estou pronta!
Senti
o sangue quente banhar meu coração e fosse qual fosse o resultado eu me
sairia bem, porque estava em paz, de bem com Deus. Sem Ele sim, eu não
seria NADA.
Bonito e verdadeiro amiga, realmente é o sentimento que nós sentimos nestas horas.
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